Tenet e o quebra cabeça 4D

Eu acabei de ver um vídeo do Gaveta que ele fala de edição de vídeo e que diz que o Tenet tem uma edição “truncada”. Eu queria fazer aqui uma defesa da edição do Tenet. Eu tenho que dizer antes que sou fã enorme do Nolan e que esse filme é o meu favorito dele. Mas ainda assim, aqui vai a minha teoria.

Muitos artistas gostam de testar sua técnica ao máximo, ver até aonde conseguem ir, qual a coisa mais complexa que conseguem produzir. Acho que o Nolan teve esse processo desde o Amnésia até o Tenet. É como se ele estivesse criando um quebra cabeça com cada vez mais peças e com um encaixe mais difícil a cada vez.

O Tenet é justamente um filme para testar como seria ter cenas indo e voltando no tempo, e você vendo a cena das duas direções. Por isso, tem toda aquela explicação no começo e ele começa devagar, com coisas pequenas, como a bala indo para a mão dele. Aí, eles explicam da máscara, que ela precisam para respirar, e isso é um prop para você entender quem está invertido no tempo. Tudo que que aparece no filme é construído, explicado e utilizado depois nunca escala maior, até chegar a luta em larga escala que acontece no final.

Spiderman no way home

Terceiro filme do Aranha com Tom Holland, de muitas maneiras fecha esse arco do personagem no cinema. Tem tantas formas que esse filme poderia dar errado, excesso de fan service, excesso de vilões (como já aconteceu na série de McGuire), excesso de história ou de arcos narrativos. No entanto, nada é feito em excesso. Tudo tem seu lugar, tudo acontece no tempo certo. Se tem uma coisa para reclamar é que as surpresas teriam sido muito mais impactantes se já não soubéssemos de antemão. Problema esse causado por esse tempo em que tudo é vazado pelas redes sociais e cada quadro dos trailers é esmiuçado em busca de pistas.

Ainda assim, o filme é genial, e uma homenagem incrível aos filmes anteriores. Adorei ver Alfred Molina na tela de novo, ele tem um carisma incrível. E William DaFoe continua genial.

Caça Fantasmas: Mais Além

Picuinhas com a tradução do título à parte, eu adorei esse filme novo dos caça fantasmas e espero que seja o começo de muitas histórias novas. Escrito e dirigido por Jason Reitman – filho do diretor do filme de 1984, Ivan Reitman – esse filme é uma linda homenagem ao filme original da série. Cada vez que uma referência ao filme original aparecia, ou um pouquinho da música antiga, era como reencontrar um amigo que eu não via há muito tempo. E apesar de que olhando de fora, o filme possa dar a impressão de que foi feito “por comitê” ou que simplesmente estavam ticando itens de uma lista, é só começar a assistir o filme para experienciar o carinho e respeito que é mostrado ao original. O elenco está ótimo, mesmo tendo um personagem chamado “podcast” e não tive nenhum problema em essa versão ser mais “séria” e não ser uma comédia do começo ao fim como é o caso da versão de 84, mesmo porque como recapturar a química de Bill Murray, Dan Aykroyd e Harrold Hamis? Precisaríamos de tentativas infinitas para tentar chegar próximo disso. Acho que talvez esse tenha sido o problema da versão de 2016, que eu gostei mas não achei nada demais, eles chegaram com o que eles queriam fazer e tentaram fazer o filme encaixar nela. Ao contrário, Jason quis homenagear seu pai e contar uma história sobre novas gerações eu me peguei várias vezes comparando esse filme com Goonies, também dos anos 80. Um puro filme de aventura e diversão.

O Esquadrão Suicida

Será que Hollywood está dando sinais de que talvez esteja aprendendo alguma coisa? Porque parece que finalmente perceberam que se você chama um diretor bom e dá liberdade para ele fazer o que faz melhor, você tem grandes chances de ter um filme bom.

É definitivamente o que aconteceu com esse filme: James Gunn, que ficou famoso recentemente pelos dois filmes dos Guardiões da Galáxia, agora faz uma versão mais violenta com personagens da DC, mas que também gira em torno de vários personagens e como eles interagem. E temos até um pouco de uma redenção para personagens do filme anterior de Ayer, como Bumerang e Rick Flag.

Um ótimo espetáculo para assistir na tela grande, se você encontrar uma sala que tenha as medidas de segurança e distanciamento. Ou assistir no HBO Max

Viúva Negra

Como estou de férias e tive uma sexta muito boa, resolvi me dar de presente esse filme novo da Marvel que está no Disney+ por “apenas” $70.

Esse seria o primeiro filme da tal “fase 4” do MCU, agora que a saga do Thanos está completamente terminada. Por outro lado, é um filme que está cozinhando há anos desde o primeiro filme dos Vingadores, pq sempre alguém perguntava pq a Viúva não tinha um filme próprio, assim como seus companheiros do grupo e o Sr Feige dizia que claro que vão fazer, era só questão de encontrar a história certa. O que é curioso, já que não faltam casos interessantes nas hqs e não houve essa demora no caso do homem de ferro, do capitão, ou mesmo do Thor.

Enfim, chegamos em 2021 como filme em mãos. É muito bem feito, o elenco principal está ótimo, principalmente David Harbour e Florence Pugh. Uma coisa muito boa é que os trailers não entregam a história, como já aconteceu no passado. Temos uma construção sólida da relação de Natasha com sua irmã e objetivos claros do que precisa ser feito. Acho que é num ótimo filme de espionagem/ação, o problema parece ser a bagagem do MCU e “ter” que começar esse novo ciclo, porque eu fiquei esperando para ver como esse filme se liga com o resto e quais vão ser os próximos passos, já que agora é praticamente esperado que tudo seja interconectado. Nesse sentido, o filme parece um daqueles “episódios do meio” de uma série, em que nada importante acontece, já que está definindo a fundação para o que vai acontecer depois.

Teremos que aguardar para ver como a teia de filmes vai ser tecida daqui para frente

Soul

Existe uma regra não escrita da Pixar: “Ou você chora no começo, ou chora no final”. Soul com certeza faz parte do segundo caso e acho que o exemplo mais claro que não foi feito para crianças. Acho que é uma continuação dos temas que Docter tratou em Inside Out com algumas variações. No filme anterior, ele mostra como não existe emoções boas e ruins, como tudo tem o seu lugar. Em Soul, ele mostra como não existe um propósito único na nossa vida e que existem pessoas que simplesmente gostam de andar ou de olhar para às árvores.

No entanto, essa mensagem extremamente importante e delicada pode ficar perdida no meio das piadas e das regras criadas no mundo dessa animação. Nos videogames, foi criado um termo chamado “dissonância ludonarrativa”, que quer dizer que já uma contradição entre a história do jogo e como ele funciona, o que o de jogador precisa fazer para progredir. Por exemplo, um jogo tem uma cena em que o protagonista reclama do horror de matar uma criatura, porque ele está sozinho nessa ilha e precisou matar um cervo para sobreviver, mas por outro lado, a mecânica do jogo é matar centenas de capangas para passar de fase, e ganhar bônus quando o herói atira na cabeça dos vilões.

Da mesma forma, há uma contradição entre a mensagem do filme e as regras criadas nesse mundo, a “mecânica” de como o mundo funciona. A mensagem do filme é de que não há um propósito único para cada pessoa e que a vida é imprevisível e que cada um precisa aprender conforme vive. No entanto, nesse mundo as almas só podem ir para a Terra quando elas tem o seu “spark” preenchido, ou seja, elas precisam de um propósito sim para poder nascer.

Não estou dizendo que o próximo filme da Pixar, ou do Docter precisa de um tratado completo e um mundo descrito nós mínimos detalhes para contar uma história, mas talvez tomar um pouco de cuidado nas regras que são criadas para o mundo que vamos visitar

Enola Holmes

Depois de muita insistência do Netflix e de algumas boas críticas, resolvi assistir essas mais nova releitura do famoso detetive inglês. Baseado numa série de livros YA na qual Holmes tem uma irmã mais nova, que é a protagonista da história. Millie Bobby Brown está muito bem no papel, é bem expressiva e carismática e eu gostei bastante de Cavil como Sherlock. Uma distração bem atuada e divertida, que venham os próximos.

100 quilos de Estrelas

Dirigido por Marie Sophie Chambon
Escrito por Anaïs Carpita e Marie Sophie Chambon
Com Laure Duchene, Angèle Metzger, Pauline Serieys, Zoé de Tarlé, Isabelle de Hertog e Philippe Rebbot

Como sempre o cinema Francês traz uma delicadeza e suavidade para falar de assuntos que poderiam passar batido. Aqui temos uma garota que sempre foi apaixonada pelo espaço, mas é desencorajada desde sempre a ser astronauta, simplesmente por que ela não tem um corpo de Barbie.

Para piorar a situação, ela frequentemente passa mal, porque não come, porque sempre acusam ela de ser gorda e obviamente gordo tem o corpo que tem porque é folgado e como o tempo todo não é mesmo?! Então, ela faz o que a sociedade pressiona e não come e passa mal. Volte para o primeiro quadrado e comece de novo.

Ainda assim, Lois encontra amigas que a apoia e que juntas vão para o concurso da CNES que premiará uma pessoa a um vôo em gravidade zero, para dar aquele gostinho de viagem espacial. Um road movie, com mais balanço e ainda sim emocionante e carinhoso