A vida com

Texto original de Ruy Castro, publicado na Folha de São Paulo, 30/03/2020, com final do texto alterado por mim
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ruycastro/2020/03/a-vida-sem.shtml


Jesus Cristo nunca manuseou papel. Átila, Gengis Khan e Vlad, o Empalador, não conheceram o canhão. Dante, Chaucer e Boccaccio nunca souberam o que era a tipografia. Cleópatra nunca usou papel higiênico, nem Joana d’Arc escova de dentes. Jane Austen nunca saiu sozinha de casa. Balzac não conheceu a máquina de escrever e Flaubert nunca escreveu sob luz elétrica. D. João 6º nunca viajou de navio a vapor, D. Pedro 1º nunca andou de bicicleta e D. Pedro 2º nunca passeou de automóvel.

Santos-Dumont nunca tomou um avião, exceto os que ele construiu. Machado de Assis nunca usou caneta-tinteiro, nem Graciliano Ramos caneta esferográfica. Enrico Caruso não conheceu a gravação elétrica, Francisco Alves nunca gravou um LP e Carmen Miranda morreu antes do som estereofônico.

Rodolfo Valentino nunca tirou uma foto em cores e muito menos fez um filme colorido. Friedenreich jamais teve um gol transmitido pelo rádio, nem Leônidas da Silva pela televisão. Garrincha nunca se beneficiou do cartão amarelo contra os adversários que puxavam sua camisa. Zequinha de Abreu nunca veio ao Rio. Noel Rosa nunca foi a São Paulo.

Bach nunca compôs ao piano. Baudelaire nunca mandou ou recebeu um telegrama; Rimbaud nunca recebeu ou mandou um cartão postal. Maquiavel nunca ouviu a expressão “maquiavélico”, nem Kafka “kafkiano”. Freud e Trótski, assim como Rommel e Yamamoto, nunca souberam quem ganhou a 2ª Guerra. Getulio Vargas jamais pensou em Brasília. Aldous Huxley nem sequer imaginou a internet. Marilyn Monroe nunca soube que John Kennedy foi assassinado. Jean-Paul Sartre escapou de ser alvo do Me-Too. E, por questão de meses em 1990, Luiz Carlos Prestes deixou de ver o fim da URSS.
Ricardo Boechat, Bibi Ferreira e João Gilberto, entre nós até outro dia, nunca souberam do coronavírus.

Mas nós, que também somos parte da História, assim como todos eles, vamos passar por isso.

Mutazione

Feito Die Gute Frabrik

https://apps.apple.com/br/app/mutazione/id1466920014?l=en

Um dos melhores jogos do Apple Arcade. Uma menina precisa visitar seu avô, que mora numa ilha isolada. Descobrir o motivo da viagem e tudo que acontece lá faz parte do mistério e charme do jogo, então é tudo que vou dizer por aqui. Um ótimo jogo de aventura, no estilo dos point and click do passado, mas sem os puzzles irritantes. A arte é linda e os diálogos são muito bem feitos.

Hábitos de leitura

Filho de professora de literatura, comecei a ler desde muito cedo, no começo para pegar no sono, pois tinha certa dificuldade de dormir fora de casa, então era comum passar algo como uma hora antes de dormir lendo um livro.

Mesmo depois de crescido, mas ainda com livros de papel, nunca tive o hábito de sublinhar passagens, fazer anotações ou coisas do tipo. Muito diferente dos livros que às vezes pegava emprestado da minha mãe, que às vezes eram até sublinhados com lápis de cor. Acho que tinham dois motivos por trás disso: primeiro porque eu achava que o livro deveria ser mantido incólume em perfeitas condições, do jeito que ele foi feito. Nada de dobrar do meio, quebrar a coluna do livro, ainda mais rabiscar ou sublinhar. Sim, eu era “aquele” tipo de chato. O outro motivo é que eu comecei a ler principalmente fora de casa, no ônibus, no trem, andando na rua, na fila do banco, enfim, e não queria ter que ficar carregando lápis ou caneta ou marca-texto ou outra coisa, me parecia muito pouco prático, ainda mais se eu estivesse em pé. E assim foi praticamente sem mudanças até a minha vida adulta. Por volta de 2010 já existiam leitores eletrônicos, com uma tela diferente, capaz de ser lido ao ar livre, mas ainda sofriam do mesmo problema que os livros de papel: a falta de luminosidade; sem luz suficiente era impossível continuar a leitura, e eu já escolhia pontos de ônibus baseado na iluminação disponível. Além de ainda defender que nada poderia substituir o toque do papel e o cheiro de livro novo e tudo isso.

Entra o fim de 2012 com uma mudança incrível da Amazon: uma versão do leitor deles, mas com uma luz de fundo! Prometendo acabar com o drama da falta de luz, mas ainda usando a tecnologia do epopeia, ou seja, continuaria sendo tranquilo ler ao ar livre durante o dia. Isso foi suficiente para que no ano seguinte eu comprasse o tal Paperwhite e visse se eu me adaptasse. Não precisei sair da loja para me apaixonar completamente pela experiência. Ele era super leve, você pode escolher a fonte e o tamanho da letra! Nada mais de livro com letra minúscula que desaparece no dorso do livro. Outra coisa que me convenceu completamente foi não ter que gastar dinheiro importando livros, eu podia simplesmente comprar pelo Kindle e não ter que ficar esperando entregarem dos EUA para cá (sem falar na monstruosidade de frete que eu pagava). Finalmente, todos os livros que eu queria estavam literalmente na ponta dos meus dedos!

Junto com o kindle vieram duas mudanças no meu hábito de leitura: primeiro, eu não precisava mais parar a leitura para procurar uma palavra que eu não soubesse, já que ele vem com dicionário embutido. A segunda e talvez maior mudança é que agora eu podia sublinhar e fazer notas no próprio livro sem ter que carregar nada a mais e fazer tudo com uma mão só, enquanto me equilibrava no ônibus. Eu não consigo imaginar como que eu faria hoje em dia sem o kindle e ficar dependendo do bel prazer das livrarias daqui para obter os meus livros, ou continuar pagando os fretes exorbitantes que eu pagava antes, que hoje seria impossível com dólar à 5 reais.

Spyder

Feito por Sumo Digital Ltd

https://apps.apple.com/br/app/spyder/id1443839718?l=en

Nesse jogo você controla uma aranha mecânica para invadir o território inimigo e impedir os planos maléficos qualquer que sejam eles. A ideia é muito boa, e os gráficos são impressionantes, mas tem 2 problemas: os controles são bastante dependentes do contexto, então você pode acabar empacado se não estiver na posição exata e olhando para o lado certo, e a câmera pode ser completamente desorientante, e atrapalha bastante chegar em algumas partes de cada fase. Ainda assim, é bem divertido, e o clima de agente secreto ajuda bastante

Jenny LeClue

Feito por Mografi

https://apps.apple.com/br/app/jenny-leclue-detectivu/id882562699?l=en

Um jogo de detetive e aventura muito bem feito com uma arte própria e bem escrito. Os personagens são bem engraçado e eu acabei dando vozes para cada um deles na minha cabeça, o que é um ponto positivo e não acontece sempre. Por outro lado, os controles são bem ruins às vezes, principalmente quando eu queria que a Jenny, a personagem que você controla, corresse. Mas isso não impediu que eu curtisse uma boa mistura de Ágatha Christie com Nancy Drew.

Uma outra coisa muito interessante desse jogo são os momentos em que o autor da história que você está jogando aparece,e mostra os dilemas de manter uma série de livros, com demandas do editor e ameaças de cancelamento se ele não fizer isso ou aquilo

100 quilos de Estrelas

Dirigido por Marie Sophie Chambon
Escrito por Anaïs Carpita e Marie Sophie Chambon
Com Laure Duchene, Angèle Metzger, Pauline Serieys, Zoé de Tarlé, Isabelle de Hertog e Philippe Rebbot

Como sempre o cinema Francês traz uma delicadeza e suavidade para falar de assuntos que poderiam passar batido. Aqui temos uma garota que sempre foi apaixonada pelo espaço, mas é desencorajada desde sempre a ser astronauta, simplesmente por que ela não tem um corpo de Barbie.

Para piorar a situação, ela frequentemente passa mal, porque não come, porque sempre acusam ela de ser gorda e obviamente gordo tem o corpo que tem porque é folgado e como o tempo todo não é mesmo?! Então, ela faz o que a sociedade pressiona e não come e passa mal. Volte para o primeiro quadrado e comece de novo.

Ainda assim, Lois encontra amigas que a apoia e que juntas vão para o concurso da CNES que premiará uma pessoa a um vôo em gravidade zero, para dar aquele gostinho de viagem espacial. Um road movie, com mais balanço e ainda sim emocionante e carinhoso

Unconfortable Labels

Escrito por Laura Kate Dale

Ouvi Laura pela primeira vez no podcast Jimquisition, criado e mantido por Jim Sterling, e soube do trabalho dela como jornalista e crítica de video games. Tenho acompanhado o trabalho dela, principalmente através dos podcasts que ela participa há muitos anos e sempre achei ela muito profissional, gentil e com um gosto excelente sobre os jogos.

Fiquei muito interessado e grato por ela querer compartilhar sua história nesse livro, que como ela mesmo diz, narra a vida dela como uma mulher trans gay e no espectro autista. Eu raramente leio biografias, sempre tendo preferido fantasia e ficção científica, mas nas poucas que eu li, realmente consigo perceber, como Neil Gaiman disse uma vez, que o mundo real pode imaginar coisas que autor nenhum teria coragem de escrever. Não consigo imaginar o desafio que foi crescer como Laura o fez e se transformar nessa mulher corajosa, bem humorada, independente e capaz de criar o seu próprio caminho, se sentido feliz e realizada com o que faz hoje.

Pasárgada

Vou me embora para Pasárgada
Lá sou amigo da Rainha
Tenho os prazeres que quero
E sua doce companhia

Vou me embora para Pasargada
Lá não tem sars, só hers
Lá corona é só o chuveiro
Lá não tem h1n1, só h2o

Vou me embora para Pasargada
Lá não tem distanciamento social
Tem abraços demorados
café com leite
E pôr do sol aconchegante

Vou me embora para Pasárgada
Lá sou amigo da Rainha
Tenho os prazeres que quero
E sua doce companhia

Todos

Todos
Todos Nós
Todos Nós somos iguais
Todos Nós somos iguais em quase tudo
Todos Nós somos iguais em quase tudo e é o diferente que dá graça
Que graça seria sermos um mar de pessoas completamente iguais
Que graça seria sermos um mar de pessoas
Que graça seria
Que graça

Down in the Bermuda

Feito por Yak & Co

https://apps.apple.com/br/app/down-in-bermuda/id1446828836?l=en

Jogo muito bonito e relaxante, mistura quebra cabeças com objetos escondidos. O problema principal é que é fácil ficar empacado quando só falta um objeto para mudar de fase e os mapas são grandes e você pode e deve girar em 360 graus para encontrar o que precisa. Um sistema de dicas seria ótimo aqui