Baseado em fatos reais

Esse vídeo do Gaveta me fez pensar sobre essa questão das histórias “baseadas em fatos reais” e nos argumentos que ele faz.

Sempre que alguém for contar uma história, a pessoa vai escolher uma linha e isso significa que partes vai ser deixadas de lado. Eu me lembro de um professor que estava falando de abstração, que é justamente apagar os detalhes que não importam para um objetivo. Por exemplo, um mapa da cidade que fosse 100% detalhado seria inútil, pq seria do tamanho da cidade, então para o mapa ser útil, ele só mostra o que é considerado importante.

Da mesma forma, quanto se está escrevendo uma história a pessoa vai decidir que partes são mais importantes para contar essa história. Até aqui, eu não tenho problema nenhum.

O problema acontece quando alguns detalhes importantes são deixados de fora, como no caso do Mente Brilhante, que foi bastante criricado pq muitas pessoas acham que foi “gay washing”, ou seja, querem que todas histórias importantes no cinema, ainda mais “baseados em fatos reais”, que sejam por homens héteros que formam famílias. Então é importante perguntar aqui porque esse fato foi omitido. Aí o criador responde que foi tirado porque não fazia diferença para a história que ele queria contar. Mas se não fazia diferença, porque não colocar essa parte?

Outro problema é que “mas isso é ficção” não pode servir como escudo para qualquer crítica à obra que você fez. Alguém fala que uma mudança que você fez na história não faz sentido ou é agressiva às pessoas que participaram e você simplesmente fala “tudo bem, é ficção”. Qual é o objetivo de contar essa história “baseada em fatos reais”? Porque se você vai mudar tudo, porque não tirar esse aviso e só contar a história da sua cabeça?

Esse aliás, é o caso do Tarantino: nem Bastardos Inglórios, nem “Era uma vez” tem o infame “baseado em fatos reais” no começo do filme. Ele contou a história que ele queria, da cabeça dele. E pode ter escolhido algumas coisas que aconteceram de verdade no meio para dar um sabor diferente.

Outro argumento mais radical é que tudo é baseado em fatos reais, porque toda história que nós contamos é baseada em coisas que nós conhecemos ou experienciamos. Sob esse ponto de vista, Senhor dos Anéis, Guerra nas Estrelas e tudo que escrevemos é baseado em fatos reais, então quando colocamos esse aviso no começo, ele tem que significar alguma coisa.

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