Existe uma regra não escrita da Pixar: “Ou você chora no começo, ou chora no final”. Soul com certeza faz parte do segundo caso e acho que o exemplo mais claro que não foi feito para crianças. Acho que é uma continuação dos temas que Docter tratou em Inside Out com algumas variações. No filme anterior, ele mostra como não existe emoções boas e ruins, como tudo tem o seu lugar. Em Soul, ele mostra como não existe um propósito único na nossa vida e que existem pessoas que simplesmente gostam de andar ou de olhar para às árvores.
No entanto, essa mensagem extremamente importante e delicada pode ficar perdida no meio das piadas e das regras criadas no mundo dessa animação. Nos videogames, foi criado um termo chamado “dissonância ludonarrativa”, que quer dizer que já uma contradição entre a história do jogo e como ele funciona, o que o de jogador precisa fazer para progredir. Por exemplo, um jogo tem uma cena em que o protagonista reclama do horror de matar uma criatura, porque ele está sozinho nessa ilha e precisou matar um cervo para sobreviver, mas por outro lado, a mecânica do jogo é matar centenas de capangas para passar de fase, e ganhar bônus quando o herói atira na cabeça dos vilões.
Da mesma forma, há uma contradição entre a mensagem do filme e as regras criadas nesse mundo, a “mecânica” de como o mundo funciona. A mensagem do filme é de que não há um propósito único para cada pessoa e que a vida é imprevisível e que cada um precisa aprender conforme vive. No entanto, nesse mundo as almas só podem ir para a Terra quando elas tem o seu “spark” preenchido, ou seja, elas precisam de um propósito sim para poder nascer.
Não estou dizendo que o próximo filme da Pixar, ou do Docter precisa de um tratado completo e um mundo descrito nós mínimos detalhes para contar uma história, mas talvez tomar um pouco de cuidado nas regras que são criadas para o mundo que vamos visitar