Baseado em fatos reais

Esse vídeo do Gaveta me fez pensar sobre essa questão das histórias “baseadas em fatos reais” e nos argumentos que ele faz.

Sempre que alguém for contar uma história, a pessoa vai escolher uma linha e isso significa que partes vai ser deixadas de lado. Eu me lembro de um professor que estava falando de abstração, que é justamente apagar os detalhes que não importam para um objetivo. Por exemplo, um mapa da cidade que fosse 100% detalhado seria inútil, pq seria do tamanho da cidade, então para o mapa ser útil, ele só mostra o que é considerado importante.

Da mesma forma, quanto se está escrevendo uma história a pessoa vai decidir que partes são mais importantes para contar essa história. Até aqui, eu não tenho problema nenhum.

O problema acontece quando alguns detalhes importantes são deixados de fora, como no caso do Mente Brilhante, que foi bastante criricado pq muitas pessoas acham que foi “gay washing”, ou seja, querem que todas histórias importantes no cinema, ainda mais “baseados em fatos reais”, que sejam por homens héteros que formam famílias. Então é importante perguntar aqui porque esse fato foi omitido. Aí o criador responde que foi tirado porque não fazia diferença para a história que ele queria contar. Mas se não fazia diferença, porque não colocar essa parte?

Outro problema é que “mas isso é ficção” não pode servir como escudo para qualquer crítica à obra que você fez. Alguém fala que uma mudança que você fez na história não faz sentido ou é agressiva às pessoas que participaram e você simplesmente fala “tudo bem, é ficção”. Qual é o objetivo de contar essa história “baseada em fatos reais”? Porque se você vai mudar tudo, porque não tirar esse aviso e só contar a história da sua cabeça?

Esse aliás, é o caso do Tarantino: nem Bastardos Inglórios, nem “Era uma vez” tem o infame “baseado em fatos reais” no começo do filme. Ele contou a história que ele queria, da cabeça dele. E pode ter escolhido algumas coisas que aconteceram de verdade no meio para dar um sabor diferente.

Outro argumento mais radical é que tudo é baseado em fatos reais, porque toda história que nós contamos é baseada em coisas que nós conhecemos ou experienciamos. Sob esse ponto de vista, Senhor dos Anéis, Guerra nas Estrelas e tudo que escrevemos é baseado em fatos reais, então quando colocamos esse aviso no começo, ele tem que significar alguma coisa.

Project Hail Mary

Primeiro livro que eu leio do Andy Weir, que ficou famoso pelo livro The Martian, que foi adaptado por Hollywood.

Eu já tinha ouvido falar que ele põe bastante ciência na ficção científica dele, mas que tinha uma ritmo bom e interessante. E é completamente verdade, muito parecido com o filme, ele é todo em primeira pessoa e com monólogos sobre o que ele está pensando e como resolver os problemas.

O que nos traz para o meu problema comi livro: a única forma que Weir encontrou de manter esse ritmo rápido e desenfreado é sempre ter algo errado acontecendo que ele precisa resolver imediatamente. No começo é a amnésia, com flashbacks que vão preenchendo os buracos. Depois, outros desastres vão acontecendo. Mas quando chega mais ou menos em 2/3 do livro, esses novos incidentes começam a parecer cada vez mais artificiais, meros plot devices para manter a tensão. E várias vezes eu fiquei pensando “como ele não previu isso?”, o que me tirou um pouco da imersão da leitura.

Mas de forma geral ainda é um excelente livro de ficção científica a vale a pena ler.

Children of Blood and Bone

Vi esse livro no jornal sobre obras de fantasia que usam mitologia fora da Europa como parte do seu mundo. Fiquei muito interessado por esse pique usava s cultura Africana dos Orixás, e até achei que era nacional, dado o tema, mas descobri que foi escrito nos EUA. Parece que mesmo quando eu tento ler algo nacional, acabo voltando para o inglês.

O livro é muito bem escrito e os personagens são bem desenvolvidos, mas tem algo que não encaixa, ou talvez, encaixa bem demais. Tem vários momentos em que eu senti que a escritora quis aumentar a tensão ou fazer um twist na história, mas fica artificial, da para ver os fios por trás das marionetes, o que quebra a imersão no mundo. Como diria a minha mãe, da para ver a técnica no texto.

Ainda assim, é um mundo muito interessante e eu pretendo ver como a história continua

Cowboy Bebop

Uma das séries mais famosas de anime, que descobri recentemente que já tinha escrito seu propósito na abertura, escondido entre as apresentações dos personagens. O texto diz que em 1941 o estilo Bebop de jazz foi criado misturando estilos e gêneros para quebrar as tradições do jazz tradicional. Da mesma forma, Cowboy Bebop quer misturar gêneros como faroeste, noir, ação e muitas outras coisas para encontrar seu próprio caminho. E consegue fazer isso em apenas 26 episódios e tirando 2 exceções, os episódios são quase completamente isolados, podendo ser montados em qualquer ordem, tirando os do começo, aonde alguns integrantes são apresentados. E o desenho brinca com estilos diferentes, como terror, detetive, comédia.

Spiderman no way home

Terceiro filme do Aranha com Tom Holland, de muitas maneiras fecha esse arco do personagem no cinema. Tem tantas formas que esse filme poderia dar errado, excesso de fan service, excesso de vilões (como já aconteceu na série de McGuire), excesso de história ou de arcos narrativos. No entanto, nada é feito em excesso. Tudo tem seu lugar, tudo acontece no tempo certo. Se tem uma coisa para reclamar é que as surpresas teriam sido muito mais impactantes se já não soubéssemos de antemão. Problema esse causado por esse tempo em que tudo é vazado pelas redes sociais e cada quadro dos trailers é esmiuçado em busca de pistas.

Ainda assim, o filme é genial, e uma homenagem incrível aos filmes anteriores. Adorei ver Alfred Molina na tela de novo, ele tem um carisma incrível. E William DaFoe continua genial.

Truth of the Divine

Segundo lindo da série Noumena, e o segundo livro da autora. Gostei muito dos personagens novos e de termos mais detalhes dos alienígenas e do “superorganismo”, a aparente sociedade deles. Mas realmente não gostei do fim, tudo parece um pouco trágico demais e a protagonista simplesmente desiste de lutar no final, não sei qual exatamente é a mensagem que isso passa. Vou ter que ver como ficam as coisas no próximo livro

Dune

Eu li Duna pela primeira vez – traduzido para o português mesmo, antes de ser chato e só querer ler as coisas no original – há muitos anos atrás, acho que lá pelo final dos anos 90, por recomendação de um amigo, que tinha lido a série inteira. Agora com a nova adaptação programada para 2021, e sem muitas ideias do que ler resolvi reler Duna, com o bônus de que nunca tinha lido o texto em inglês.

O livro continua exceptional e mostra o quanto Herbert investiu em pesquisa para criar um universo tão diferente do resto da ficção científica.

Another World

Ou como eu conhecia quando joguei pela primeira vez “Out of this World” porque aparentemente os EUA tem um costume de mudar o título das coisas, mesmo quando já estão em inglês.

É completamente embasbacante como esse jogo envelheceu bem e tem coisas que são tentadas até hoje, como uma junção contínua entre cutscenes e jogo. Tudo isso feito em 1991, quando outros jogos ainda estavam pensando em mascotes e plataformas. Ainda por cima, uma história incrível

Axiom’s End

Eu vi Lindsay Ellis pela primeira vez no canal do Nostalgia Critic. Ao longo do tempo, comecei a seguir o canal dela, em que ela sempre teve videos muito interessantes sobre cultura pop. Foi uma grata surpresa quando ela disse que ia lançar um livro esse ano e pude participar do lançamento do livro, porque, com tudo fechado, fizeram um lançamento virtual.

É realmente impressionante pensar que este é o primeiro livro dela, mesmo sabendo que ela demorou 10 anos para ter a versão final do texto. Ao mesmo tempo, fica muito claro todo o conhecimento que ela tem e exibiu ao longo dos anos sobre Fantasia, Ficção Científica e como histórias são contadas. Não só foge de qualquer clichê do formato, como sempre tinha uma tensão do que poderia acontecer na próxima cena ou para onde o enredo iria.

Como não poderia deixar de ser nessa época, Axiom’s End é o primeiro livro de uma série, então vamos ver que surpresas Ellis vai nos brindar nas próximas obras